domingo, 3 de maio de 2009

Os maiores enganos sobre a Amazônia

Tem muita gente que acha que sabe da Amazônia. Dizem que o Brasil deve fazer isso, aquilo. Mas só a conhecem pelo Fantástico e pelo Jornal Nacional. Nunca leram um livro sobre ela, nem nunca estiveram aqui. Se bem que só morar por aqui não qualifica ninguém a doutor em Preservação Ambiental.
Primeiro grande erro: defender que o Brasil não deve entregar a floresta. Não que o Brasil deva fazer isso; mas ficar discutindo essa ideia é perda de tempo. Nunca ninguém, nem no país nem no exterior, sugeriu que quase metade do nosso território seria internacionalizado. Isso é teoria da conspiração das mais malucas.
Segundo grande erro: pensar que basta não desmatar e deixar a nossa região abandonada. É preciso encontrar um modo de desenvolver a Amazônia sem desmatá-la. Uma professora da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências, até sugere que o desenvolvimento é a única forma de salvar a grande floresta. Simplesmente proibir todo e qualquer desmatamento e atividade comercial ou industrial amazônica só tornaria mais fácil os desmatamento ilegal.
E a seguir vem o erro que mais incomoda os amazônicos, e que é uma dupla ignorância: pensar que na nossa região só tem índios, e que por isso aqui não vivem pessoas normais. A primeira ignorância é de ordem numérica: se há 400 mil índios no Brasil e 15 milhões de habitantes na Região Norte, seria difícil aqui só ter indígenas; e a segunda, ainda pior, é de ordem humana e revela o preconceito das pessoas: mesmo que aqui só houvesse nativos, qual o problema? Eles não são pessoas também?

Público ou crítica: o que um escritor deve objetivar?

Ernesto Sabato disse que "os best-sellers estão para a literatura como a prostituição está para o amor". Não concordo. É claro que vendagens não indicam bons escritores: vejam os Paulos Coelhos e os Dan Browns da vida. Por outro lado, muitos grandes autores permaneceram desconhecidos ou com talento não reconhecido antes de morrer: tomemos como exemplos Franz Kafka e Nelson Rodrigues.
Mas também não se pode generalizar: há autores de best-sellers que realmente são bons autores. Exemplos: Khaled Hosseini e Thrity Umrigar. Ambos são sucessos de público e de crítica. Outro dia, li num determinado blog uma crítica veemente ao Caçador de Pipas, de Hosseini. Tudo bem: por mais que eu goste do livro, ele não é inatacável. Mas o blogueiro apenas se limitou a dizer que best-sellers e obras-primas eram coisas completamente distintas, disse que depois do episódio de 11 de setembro era esperado que um autor afegão se levantasse e defendesse o seu país, ficou repetindo que êxitos de tiragens eram livros ruins... mas não disse afinal porque não gostara do livro. Uma crítica mal-feita que, não fosse por um ou outro trecho do livro apontado no blog, eu desconfiaria que o tal crítico sequer o leu.
Isabel Allende emitiu a seguinte opinião a respeito do livro:" Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido esse romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção." Prova de que nem todo autor de sucesso junto ao povo é criticado. Outros exemplos disso seriam Erico Verissimo, Jorge Amado e, mais recentemente, Paulo Lins e Ignácio de Loyola Brandão.
Thrity Umrigar, a escritora indiana que citei no início, embora não tenha a fama de Hosseini, é sem sombra de dúvida, autora de peso comercial e, mais importante, literário. A sua única obra que li, "A Distância entre Nós", é maravilhoso, e retrata muito bem a Índia contemporânea, permitindo-nos conhecer a sua cultura bem melhor do que pela novela Caminho das Índias (que, aliás, assistindo um ou outro capítulo, já notei que várias das personagens tiveram seus nomes surrupiados de "ADeN").
Por fim, Goethe, autor de talento inquestionável, disse que "aquele que não deseja ter um milhão de leitores não deveria escrever uma linha sequer".

sábado, 2 de maio de 2009

Síndrome do vira-lata

*Só um esclarecimento: o título do blog é uma citação de Clarice Lispector, que precisou ser compactada por causa do limite de caracteres. A original é: "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. "

Por hoje, pretendo escrever sobre um mal que assola praticamente todos os países, mas em especial o Brasil e os países africanos: a síndrome do vira-lata: aquela síndrome que nos faz desvalorizar tudo o que é nacional, e acreditar que os países desenvolvidos são sempre melhores em tudo.
Um exemplo claro disso é com a literatura: muitos vira-latas, sem nunca terem lido o livro de um autor nacional, já desconsideram os nossos escritores, que estão entre os melhores do mundo, provavelmente só superados pelos ingleses e franceses. Machado de Assis, para muitos, foi o melhor escritor do século XIX; e mesmo os que não o consideram isso tudo, têm que admitir que pelo menos entre os melhores ele está. Nelson Rodrigues: um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, talvez atrás só de Shakespeare e Sófocles. E há tantos outros exemplos: Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Erico Verissimo...
Outro exemplo é quanto ao cinema: muitos pensam que o fato do cinema brasileiro não ser o mais desenvolvido do mundo é pela falta de talento de nossos cineastas, e simplesmente ignoram que o cinema não é uma arte que depende apenas do talento: está condicionado também pelo orçamento. E são justamente os vira-latas os que mais consomem produtos piratas, puxando pra baixo os lucros do cinema, e consequentemente os orçamentos.
Os filmes brasileiros, quando muito, têm orçamento de uns 5 milhões de reais. Já os norte-americanos, quando pouco, de 10 milhões de dólares. Mas com algumas exceções, ao se comparar uma produção nacional com uma estrangeira e que estejam ambas nas faixas citadas, o tupiniquim ganha. A não ser em casos excepcionais, como Pequena Miss Sunshine e Juno, os filmes americanos de baixo orçamento não fazem sucesso.
Para os vira-latas, os brasileiros são o povo mais ignorante que existe. Mas um terço dos adolescentes ingleses não sabem quem foi Winston Churchill, e se não estou enganado, mais da metade dos americanos não sabem que ainda existem países socialistas.
Para os vira-latas, os brasileiros são sempre os mais mais isso, os mais aquilo e os mais não sei o que. Mas esses vira-latas nunca saíram do Brasil, e chamam os patriotas de alienados, e dizem que nós não conhecemos outras realidades. Bem, nesse caso, só posso pedir desculpa a eles por não ter assistido todos os High School Musicals e nem ter passado uma semana inteira na Disney (que, quando eles saem para o exterior, é o seu único destino) e, portanto, não "conhecer'' outras realidades.
A ideia de patriotismo está incorretamente associada políticos honestos: no entanto, qualquer povo ocidental, independente dos políticos serem ou não corruptos, os acusam de serem. E mesmo assim, muitos povos ainda são patriotas. Um patriotismo "embasado" somente na política na verdade não tem nenhuma base: pode desabar a qualquer momento.