sábado, 2 de maio de 2009

Síndrome do vira-lata

*Só um esclarecimento: o título do blog é uma citação de Clarice Lispector, que precisou ser compactada por causa do limite de caracteres. A original é: "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. "

Por hoje, pretendo escrever sobre um mal que assola praticamente todos os países, mas em especial o Brasil e os países africanos: a síndrome do vira-lata: aquela síndrome que nos faz desvalorizar tudo o que é nacional, e acreditar que os países desenvolvidos são sempre melhores em tudo.
Um exemplo claro disso é com a literatura: muitos vira-latas, sem nunca terem lido o livro de um autor nacional, já desconsideram os nossos escritores, que estão entre os melhores do mundo, provavelmente só superados pelos ingleses e franceses. Machado de Assis, para muitos, foi o melhor escritor do século XIX; e mesmo os que não o consideram isso tudo, têm que admitir que pelo menos entre os melhores ele está. Nelson Rodrigues: um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, talvez atrás só de Shakespeare e Sófocles. E há tantos outros exemplos: Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Erico Verissimo...
Outro exemplo é quanto ao cinema: muitos pensam que o fato do cinema brasileiro não ser o mais desenvolvido do mundo é pela falta de talento de nossos cineastas, e simplesmente ignoram que o cinema não é uma arte que depende apenas do talento: está condicionado também pelo orçamento. E são justamente os vira-latas os que mais consomem produtos piratas, puxando pra baixo os lucros do cinema, e consequentemente os orçamentos.
Os filmes brasileiros, quando muito, têm orçamento de uns 5 milhões de reais. Já os norte-americanos, quando pouco, de 10 milhões de dólares. Mas com algumas exceções, ao se comparar uma produção nacional com uma estrangeira e que estejam ambas nas faixas citadas, o tupiniquim ganha. A não ser em casos excepcionais, como Pequena Miss Sunshine e Juno, os filmes americanos de baixo orçamento não fazem sucesso.
Para os vira-latas, os brasileiros são o povo mais ignorante que existe. Mas um terço dos adolescentes ingleses não sabem quem foi Winston Churchill, e se não estou enganado, mais da metade dos americanos não sabem que ainda existem países socialistas.
Para os vira-latas, os brasileiros são sempre os mais mais isso, os mais aquilo e os mais não sei o que. Mas esses vira-latas nunca saíram do Brasil, e chamam os patriotas de alienados, e dizem que nós não conhecemos outras realidades. Bem, nesse caso, só posso pedir desculpa a eles por não ter assistido todos os High School Musicals e nem ter passado uma semana inteira na Disney (que, quando eles saem para o exterior, é o seu único destino) e, portanto, não "conhecer'' outras realidades.
A ideia de patriotismo está incorretamente associada políticos honestos: no entanto, qualquer povo ocidental, independente dos políticos serem ou não corruptos, os acusam de serem. E mesmo assim, muitos povos ainda são patriotas. Um patriotismo "embasado" somente na política na verdade não tem nenhuma base: pode desabar a qualquer momento.

Um comentário:

  1. Kra, parabéns pelo seu post e blog, começou muito bem... continue sempre assim.
    Gosto muito de ler e leio alguns estrangeiros clássicos é verdade, mas nunca deixei de prestigiar alguns escritores brasileiros, concordo com vc, brasileiro não valoriza nada que seja nacional nem mesmo a si próprio ele valoriza.
    Só nos resta ir gritando aos quatro ventos para que uma, duas ou três gerações futuras possa fazer valer o valor que nós temos.

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